domingo, 24 de maio de 2009

A ciência é um caminho sem volta

A ciência é um caminho sem volta, cunhado na morte sistemática de alguns punhados de ignorância. Quanto menos não se sabe, mais se tem consciência do seu não saber. É mais filosofia que método, arte que saber. Possibilita ao homem o pensar em sua própria condição humana.
Embora travestida por místicos poderes e determinados saberes, a ciência é a possibilidade de se confrontar com a incoerência lógica da verdade absoluta. Denuncia nossas humanas limitações diante de um mundo inapreensível.
A ciência tornou-se pressuposto para a civilização e responsável pela não extinção de nossa espécie. Em nossa mais remota existência, foram feitas escolhas pelos nossos ancestrais em usar a ciência. Movidos pela necessidade de comunicar-se e passarem adiante seu conhecimentos, eles criaram a linguagem, perpetuando e aprimorando sua tecnologia, mesmo que, ainda, em sua forma mais rudimentar: com o emprego de ferramentas de pedra e o uso do fogo. E numa supremacia evolutiva darwiniana, a ciência determinou e pontuou a posição privilegiada do homem entre os seres, daquele capaz de transformar o mundo, até por meio do olhar. Sem ela, seríamos apenas primatas.
A ciência permeia tudo que provém do humano, todas as áreas do saber, do conhecimento, os objetos por ele criados. Tornou-se mesmo responsável pela fisiologia do homem. Se temos roupas, pêlos se fazem desnecessários. Se cozinhamos os alimentos e os cortamos, por que manter-se as presas?
O cientista é verdadeiro poeta, embriagado pela sua própria loucura, pervertido pelo desejo da descoberta. A ciência constitui em si mesma objetivo: dita os caminhos... os meios... mas não os fins! Os últimos são contribuição da sociedade. E como todas as coisas em si são portadoras de uma ambivalência, os inventos são portadores da vida e da morte, do bem e do mal. Assim, pode a tecnologia nuclear atuar no tratamento do câncer e servir de base para a construção da bomba atômica. A Internet, o meio de comunicação que eliminou a palavra tempo e distância entre algumas pessoas, e também criou a exclusão de outras; que proporcionou liberdade de expressão e a propagação de sites de pedofilia.
Talvez hoje não sejamos menos bárbaros, mas não pode ser a ciência a culpada pela bestialidade dos ascendentes de seus criadores. Pelo contrário, é o império da ciência, com seus desígnios divinos, que sustenta a posição da lei perante a civilização, cria as regras, recalca as pulsões. Mas dotada de tal impotência diante da ética dos homens, seria a ciência capaz de promover a primazia do homem e traçar o seu próprio apocalipse? Não! São os homens que puxam os gatilhos, que injetam nas veias a heroína. São os homens que apontam os mísseis, são os homens que poluem os rios. O que da ciência é objeto, para o homem constitui em ferramenta.
Preferimos, assim, culpar a Ciência à mão que balança o berço, levanta o travesseiro e sufoca o bebê.
Fomos conduzidos por um caminho sem volta, do qual não se conhece o destino. E diante dessa angústia, ficamos presos ao impasse, duvidosos de nossas antigas escolhas:
Segue a ciência sua evolução, ou devolvam-nos a doce ignorância?



Fabrine Schwanz

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